Senta, que lá vem a história...

Pessoas da minha geração conhecem bem a frase do castelo Ra-ti-bum: senta, que lá vem a história...

Para os mais novos, castelo Ra-ti-bum foi um seriado infantil, brasileiro, que encantou a criançada na década de 90. Graças a Wikipédia um breve resumo: a história se passava dentro de um castelo mágico habitado por Nino, um menino de 300 anos de idade, que era aprendiz de feiticeiro, junto com o seu tio Dr. Victor e a sua tia avó Morgana.

Nostálgico, certo? Confesso que desde pequena gostei das histórias e quando ouvia esse título da série, em minha imaginação, era realmente um "senta aí menina, que vou te contar umas boas histórias".

Sinceramente vivi esses momentos com as minhas duas avós. Toda vez que eu ficava mais tempo com elas, fosse férias ou algo prolongado como feriado, lá estava eu querendo saber sobre as suas histórias de vida, principalmente sobre a infância, dos pais, dos irmãos, quem era bravo, quem era mais tranquilo...

O mais interessante é que me recordo o quanto havia paciência para repetir tudo, afinal quase nada mudava, mas eu adorava escutar.

Momentos assim são importantes para os dois lados. Para a criança, promove noção de cuidado, vínculo, afeto, fantasia, desenvolvimento cognitivo, memórias afetivas duradouras, linguagem, entre tantos maravilhosos benefícios, além, claro, de expandir seu repertório e conhecimento de mundo.

Para os avós é igualmente potente, pois há ali um encontro real, um ouvinte de sua história, de sua jornada, que não demonstra ansiedade e insegurança frente a sua fragilidade. Ao contrário, legitima a sua presença e importância.

Por isso é tão mais fácil perceber como eles são os verdadeiros contadores de história.

De acordo com Winnicott, é sempre um relacionamento vivo entre duas pessoas que se abre espaço para o crescimento, ou seja, nessas muitas histórias é possível elaborar, naturalmente, aquilo que até então não era percebido.

Como bem-dito pelo filósofo Heráclito, a constância na vida é a mudança do corpo e da mente.

Por mais contação de história, sendo assim, senta, que lá vem...